9.30.2008

poesias sem linha

    Eu, que sou, em suma, uma ânsia, às vezes difusa, de querer entender, Não sou capaz de estranhar o porquê de atravessar a rua apressado, Sem mesmo ligar importância aos carros, Mas virar-me a qualquer assovio de pessoa – aos que acham que me chamam (não conseguiria estranhar ser humano em todos os entres)

 - uma pretensão literária 

 (Qual é o tempo ao qual a literatura rompe a barreira do livro – a do leitor –? 
Qual é o limite para as idéias irromperem a barreira do tempo? 
Isso é: Se se pudesse dizer que há barreiras ou limites para a arte ou para o espírito.) 

O caso seria, como é, de as barreiras e limites estarem de acordo com suas manifestações,
Com seu alcance advindo da abrangência que consegue;
Como também de não se estreitar o espaço em que se dão
Seus infinitos concebidos como particulares.
Do limite de seu alcance não possam mesmo ultrapassar
(perdendo-se quando passam – transfigurando-se – , porque passam.
Transferem-se – eis um exemplo aqui e aí... mas certo que de modo torto a exatidão que pretendo, que almejo). 

- Meta-significação – aos inteligentes – (o chapéu largo aos que não precisarem ler e que ainda assim o façam)

Eu quando pequeno, Quando mais pequeno,
Quanto menor eu era mais objetivos tinha,
Porque outros queria 
E outros deixava ou perdia – a todos! 
Quanto maior ficava – 
 Os objetivos menos, mas grandes,
E mesmo ainda fora de alcance –
Via-me eu pequeno perante o mundo (perante o mundo grande dos grandes).
Descobri que tinha de ter objetivos por um objetivo único,
Um bem mais grande,
Que fosse um norte aos medianos e miúdos
(que de norte fosse a direção que fosse – que tomasse).

Eu, então, no centro da rosa dos ventos,
Tentando sentir qualquer força compatível a mim, que me atraísse.
Pois é que – neste quadro de imagem acústica,
No qual pinto, pensando também, mas sentindo (virtualmente)
E fisicamente produzindo quase mudos sons (multifacetismo de signos pluralizado):
Aqui, no caso –
Há de se exaurir forças abstratas à atrair e
Ser atraído, concomitante, continuamente
    – talvez: ser lançado e lançar-se para dentro do mundo e para fora de si, depois de o mundo pra dentro, profanando-se (profanando o que já o é).
(Como quadro, é um momento congelado,
O momento presente congelado,
    Compacto, inteiro, coeso, coerente por ser –
Como tudo fixo, pedra, estátua e chão –);
seguir inerte a infinitude ubíqua de cárcere de gozo.

(Mas a rosa dos ventos não é senão humana, de norte estipulado...
Esta de aqui não.) 

Ser, então, as rosas dos ventos que semeiam,
Em raiz, fixadas em espaço;
Ter o fértil amplificado.
Como não há primeiro (que todo intuito é gerado e não surgido),
Não há criação;
Mas não há empecilho para o que existe existir!

(Até que... e deixar de.)

(Que no mundo dos pequenos, dos infantes, ..., haja fadas!, mesmo para que depois as matem. Uma vida borbulhante, real, existente porque dinâmica e presente, situada, perceptível, influenciável, tangível à suas manifestações.)

    Não é por mero meta-discurso, Ou intertextualidade (que são nomes feios a minha poesia) Que O digo e executo – O que digo por (com) leviandade... Leviano a vós todos! Que acaso sejais inteligentes.
(Vou à segunda pessoa do singular:)
    Acaso se fores inteligente, mesmo que nem tanto, E acaso tenhas por’uma certa instância encontrado fadas, gnomos, Ou tenhas escutado a voz que o vento sopra, Ou mesmo concebido que uma semente contenha a floresta toda... Se fores este, então...: Me calo 

(um verso em branco)

    Calo-me por reverência de (a) um sentimento grave, De quando nos deparamos com uma verdade incontestável (Completa – porque com todo o diverso condiga). Mas (de novo aos só inteligentes, Que precisem de provas precisas Por não verem-nas no que está escrito Nem ao redor do que consideram eles...)

(No aqui do tempo, agora, eu deva plagiar para ir buscar um argumento:
    tenho de Ser sincero contradizendo-me a cada minuto)

    Quando me negas verdade, quando, se, contradizes-me, e no que eu concorde contigo, Não estarás chegando à verdade concreta se permaneceres fiel a ela E se quiseres que ela se mantenha categórica ao longo do tempo (posto que é o próprio tempo inverso ao categórico); Não estarás pondo-me verdade goela a baixo Por remédio; Só, isso sim, bitolado a realidade tua. (Isso parece ruinar a minha autoridade enquanto autor do que, exato, digo.)

Autores de outrora intercedei, rogai por mim!,
Os póstumos que me retomem,
Concordem ou contradigam-me.
Esqueçam-me de imediato os de agora!

– a nossa raça (de autores do presente) só é alguém como projeção de passado e futuro. (Aqui eu sou só o que digo.) Os que são agora são parte do processo – Relevantes para supor aspectos dele, de outro tempo. Não convém definirmo-nos, pois não estamos acabados – Não estamos!
    Não me instiga querê-los convencer nem entendê-los... Convém, sim, captar a regra (como lei, tendência, tenência, ou essência) A que obedecem...
    (mas não quero falar sobre umidade, grisalhar, perecimento: o transmudar da existência: a tudo que vive, o fator tempo.)
    O presente é a instância – Impertinente tentar concebê-lo, por nos participarmos-lhe. E fica-se muito mais simples que pela intemporalidade Chegue-se ao bosque das fadas e gnomos, ...
    (A partir daqui serei anti-poético até demais:)
    É certo que a obra-de-arte (que já é um termo feio, impessoal e impreciso), como toda comunicação, dá-se por um código específico, algum signo, ou seja: por virtualidade ou virtualização de um elemento real para o entendimento; e que os signos se multiplicam e comungam de (copulam em) sistemas. Mas para conceber sua realidade, nunca toda, não se trata de entender seus elementos, ou não apenas... Trata-se antes de saber o que não se saiba. (Posto que nem mesmo os elementos se entendam a si por si sós, e mesmo porque se não mantenham.) O que venha a uni-los dê mais sentido que a própria disposição dos signos.
    (Isso – talvez! – faça com que meu intuito mude em certo ponto. Mesmo que nada haja que possa fugir a natureza de tudo – como a minha letra que não possa deixar de ser garranchosa por rápida, e de garranchâncias poéticas escritas sem pensar se erra ou acerta: sem saber Se!, sem saber ser! –, acaso eu me submeta aos inteligentes captando sua linguagem, sua forma de entendimento, para que possa me fazer entendido, para que possa me fazer entenderes – acaso eu tento.)
    Ignoras (Talvez!) (Digo talvez para que não tenha que talvez vir pedir desculpas por um talvez-ruído externo a mim e, talvez, a minha escrita), Ignoras que haja qualquer inteligível eixo condutor na interação, na integralidade, De incodificável, de indizível; Que nem quem o gera e gerencia poderia conceber sua totalidade, Por mais que o faça ser só sendo utilizado por si.
    Como ignoras!... Ignoras a dinâmica contínua da geração de significado; Onde, certo “eu” estou, dá-se o infinito, E onde nada haja por acaso – simplesmente seja caso que não tenhas percebido –, Mesmo que não tenha aparente ou determinado motivo!, ícone, cânone, Sanidade.
(... e eu ainda preferia falar de flores!)... 

 *-*-*

 __ Fora! Fora!, fora! Fora o dentro em mim!
A substância se torna a forma, 
A forma é o que se quis. 
A forma vem à tona fora, 
A substância vem em si. 

 Nem o que se é só se é, 
Porque o que existe (ao que se é) recorta; 
Nem o outro seja (ao que é) o que de fato é, 
Se o algum eu lhe põe em bordas
– pela sua (deste eu) capacidade e conceito d'digno,
    pela circunstância moral e parâmetro sígnico:
Inerências sociais! – o que o dizer nosso se torna.

*

Não me é consentido, por mim, mensurar ou ponderar a vida,
Por seus aspectos de fragmentações terem de me bastar,
Por nem poder decifrar seus gestos todos
Nem saber qual ou quanto seria o tanto.

Mesmo sem também poder ver seus reflexos, refluxos,
    Por estar-me fluindo em eles, junto

*-*-*

quero sem querer luz, e sombra que nos represente
(A penumbra, nem consigo repará-la bem, Por variedade de luz e sombra que é.)

*-*-*

Quando se embota a cor dos olhos
Nada segura
O pranto que mesmo não bem simula;
Tampouco será ele o que o executa.
O medo não se tem menos ausente
Quando o brilho d’olhos desfalece 

(o que nos medra no escuro é o que não se pode ver no claro).

3 comentários:

floratomo disse...

tudo bem, os carros não têm tanta importância, são somente engrenagens...

floratomo disse...

questão mesmo de limite, se o houver...

floratomo disse...

um verso em branco...