10.21.2010

Livr(o/e) a ser lido

Se nunca os tivesse visto, saberia todo o resto menos isso; muito provável que houvesse só o vazio do sentido, que veio vir a trazer aquele par (como existisse, definitivo, o mais belo quadro, mas que dele só se soubesse a moldura... e que pudera ter sido o mais belo quadro, e só isso). E, nesse caso, eram olhos...

em verdade olhos ordinários, desses que se cruzam por um acaso de uns estarem por descer do ônibus e os outros por ali passeando, distraídos, enxergando sem verem o que de fato olhavam no momento de clarividenciarem o encontro.

...havia a vida naquele olhar, e pensava isso enquanto não mais estavam juntos os olhares...

mas ainda presente a sensação que trouxeram pela conversa de eras, num simples se porem os olhos uns nos outros;

Mais presente aquela umidade de vida que se alongava a sua análoga: aventuravam-se na brincadeira de ver almas; ambas, graves e responsáveis ao ludicarem seus contatos.

E o mais que vira fôra silêncio,

sem adjetivos...

o tanto de vida faltante a sua(...).

A dela reciproca.

Olhou breve para o canto superior, e o canto da boca na mesma feita – como se ao cair pensasse “não; denovo...;” e ao mesmo tempo dissesse um sim melodioso ao zunir, caindo. Era nítido que um tanto dA falta estivesse indo na cor mesma daqueles olhos – castanhos, quase que certamente que castanhos; dependendo da luz, méus.

A falta, agigantando-se, vivendo na cor que a olhou uma única vez, e ainda a que mais olhara certo...

Reconhecera a sua criança na criança que habitava ali.

e além de méis, azuis, quase que plenamente azuis essas crianças

Tinha a facilidade para reconhecer crianças nos olhares, treinara desde a infância, como instrumento, como utensílio, ou melhor, como uma língua, que só vive por nós.

Vivia sua memória no simples ecoar de um movimento. Agora:

“vivente memória daqueles olhos de ora,

daquela cor,

do silêncio ofuscante,

daquela falta...”.

Ainda vivia a memória do pôr-do-Sol, roxo, vermelho, laranja, cor de amarílis e cor de rosa, esta alada cor. que via ainda, mas que via viva no instante antes do impacto.

As três vidas, o pôr-se o Sol, ela e ele indo-se, e os olhos pondo-se, viviam, viviam deveras; impulsionadas; independentes, imprudentes de vibrantes.

Vivia assim, até quando consegue reviver que vivia, vivia assim: em soluços, ou entre as pausas de um para outro estacato da risada mais gostosa; e ela como o caminhar saltitante dos relógios da casa de sua vó, que pareciam mais namorar do que obsequiar o pêndulo... namorava, de fato, o tempo como quem tenta guardar o gosto de todo o canto da vida numa única boca, e para isso tem de fartá-la do pão, da saliva e do sabor de todo canto.

Mastigar

passo a passo

o mínimo possível

sem engolir

manter o mais fresco

que se pode,

até se percerber saboriando a própria

boca.

A gravidade do silêncio a excitava, e a adormecia ao se concentrar em todas as suas

cores...

assim fôra que aprendera a escutar o pigmento das palavras.

só podiam mesmo ser ditas pelo que as enxergasse... mas

olhos só dizem olhares.

E se chamasse?... se gritasse àquelas cores, àquele silêncio, àquele vale de possibilidades que tanto a instigava? Se gritasse... e se gritasse...

não, não no mundo da cognição, não nessa avenida de políticas que só afastam o que se pensa ser a vida do que tem alma.Gritaria feito doida nenhum nome, não sabia o nome do silêncio nessa outra língua criada pelo homem para esconder o significado íntimo das coisas... “significado íntimo nenhum”

então:

“te empresto meu livro, sem nenhuma promessa,

te dou assim o que jamais poderia,

pois sou mais o que flui do que a fluência;

mais revelada pelo o que em mim ecoa, do que pela matéria em si

– ('é como timbre natural, entende?)...'

… e ela não sabe a resposta; e mesmo que houvesse, não era exatamente aquilo que calava, era uma outra cousa, ou de outra natureza, ou outra forma;

na verdade não calava: soava; tangia o sentidos que reverberavam... e só. E aquelas cores que se iam pareciam ter escutado; se sim,

“essa cor faz a minha luz ser vida aos ouvidos.”

E dependia do it também, havia it que se ouvia como sinfonia jazzística, noutro uma sonatina populaça, noutro um doce melisma escutado ao longe...

tinha it em que parecia ser só o sussurro de uma chuva, fininha, em que é preciso fazer shhhhhhhhhhh para a companhia... calar a respiração para ecoar o shhhhhhhhhhhhhhhhh..., … … … … … … … gostava era de quando soava uma caixinha desafinada boa, gostava justo do desafinado, dava-lhe a textura, a afetuosidade àquela única composição de tons, e mais ainda gostava de pensar nas gerações que escutaram essa caixinha ir perdendo o teso 440 hz no lá; e ir ganhando a vida nos contornos tônicos,

nas cores da ferrugem do som, nas memórias como sétimas sensíveis,

como cheiro de casa de amigo.

E sentia-se a interseção do próprio escutar essa caixinha de segredos, ela era todas as fotos e todo o terem amaralecido as notas as fotos e a bailarina. E o espelho visto desde sempre; como era também a entidade dos sorrisos que se abrirão nos incessantes renovares e permaneceres – como eram seus olhos e as suas mãos, sintomas de sua individualidade e de sua comunhão: nos olhos, tinha a dádiva consagrada por ela e por ancestralidade, e nas mãos os traços da maldição de acarinhar o fogo,

como resultado – enxergava o lá e tateava o ritmo, música e verso, para acalentar o quase-sem-querer-derramar dos seus carinhos respingados pelo mundo afora, orgânica de luminosidade...

… e não sabia ser isso uma pergunta.

como se chamaria aquele olhar, que os seus chamavam em olhares?

mesclados de aflitos pela voz ser brilho e de calmos em saber a música dos olhos amantes,

que já eram amantes aqueles olhos que, mesmo que amantes, não se voltaram mais.

... - ...

Seguindo retos, os dois agora amantes tentavam se manter fixos no destino, achando que deviam proteger os passos que iam precisos no caminho,

mas sozinhos, pois os olhos ficaram vivendo a miragem dos amantes que, parados, se despediam em pequenos raios misturados sem saberem... ele, concentrando sua atenção nos planos, atento as eloqüências dos tempos, principalmente deste tempo, querendo saber pensar o universo... de olhos medrosos em verem o vazio quântico cotidiano... se penetrasse o vazio, teria que conviver com o abismo todos os dias... e é perigoso, pois os abismos nos elucidam, nos atraem e nos crescem...

e tinha medo por inteiro de deixar de ser, deus criança e poeta.

E

Não se voltaram para trás.... queriam também manter aquele gosto... como querendo ser apenas água o que é mar,

E aqueles olhares ficaram-se assim um ao outro, como gostos que deslizam lentamente para a eternidade humana –

inexistindo

inexistindo,

inexistindo;

inexistindo. até tornar-se o sulco do nada da vida, e ir compor o fruto da graça do corte que, posto que divino, vazio...

como todas as poesias surgidas na boca de todas as crianças:

O meu vazio está em todos os olhos que não vieram olhares para vê-lo.

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