8.10.2009


"E tem a minha menina
do nome feminino do meu poeta favorito
(com medo que o mundo se acabe daqui a uma trinca)
– felizmente podem ser ambos meus, graças aos
pronomes possessivos."


Minhas poesias até hoje foram ruins por eu sempre querer que
fossem grandes,
porque o eu sempre querer já tudo explica.

E ainda perco-me a tentar a escrita breve...
torno-me incompreensível
(ou torno-a se mo fosse concedido);
erro a escrita longa
porque saio do destino a qual me guio.
A(h!)o menos assumo que sou ridículo:
quantas poesias, confesso, comecei ao cabo
enxertando o meio de uma pomposa, promiscua, prolixa,
efusiva lírica,
- para tentá-la grande,
mas nunca...
E ela, graças a deusa, língua,
indecodificavelmente bela.

Não nasci a tempo dos chapéus...
isso é que falte a minha arte:
a elegância harmônica do gesto
(tal a de um Chaplin)...
a tão expressiva, simbólica e cidadã representância
de um chapéu...
um componente histórico que falte aos homens como eu.

Precisava é roubar a expressão
linda e vulgar, e já roubada,
de saldar-lhes tirando o chapéu largo,
que é isso que meus sentimentos fazem.
Mas minha cabeça pelada,
de uma cabeleira espalhafatosa e atabalhoada,
perde esse movimento raro, plácido,
sobrando só um salve desajeitado.

Mas também o mundo agora não precisa de poesia,
não tanto quanto de poetas –
não se tem ela nem à tinta, nem à seco.
Hoje já não há rima que condiga nem que ao mundo dizer consiga
(não há ao menos a unidade).
E poucos são os corações que a sentem [a falta];
poucas são as ganas que a fazem...

Mais que poesia, faltam poetas.
A poesia, a encontro a cada hora, de soslaio,
mas em toda a roda não acho um só que contemple-a ao meu lado
- ou eu sou míope, entorpecido, ou o resto todo é que é
tapado.

E pretenso a dizer que o que faltam são poetas de verdade!
(se acaso achasse-a para tal intento...)
Mas minto
(mas digo que faltam poetas de verdade);
e já me basta de buscar o poema,
ora é, pois, que me invade,
penetra-me a toda senda,
pois o meu ver – já o disse, minto –
mente ser poeta;
mas não se basta –
é preciso ser quem o ler.

(Quase morro com um cigarro mas acontece que me fica bem
parecer ter desprezo pela vida, porque não basta, porque falta
– a mim, como a ela, tê-la)
E é preciso senti-las,
tanto a vida quanto a falta;
é preciso pô-las como farsa artística,
que melhora e revigora seus detalhes.
É preciso o menos,
a falha...

Por isso o último verso ser só quando finde a vida
e nem sempre ser o último verso o que quando acaba.





























E o que há é essa umidade
de vida nos olhos e nos sexos apenas,
que com o tempo vão secando
em lágrimas e filhos não-nascidos...
E só por isso que são precisos os poetas
para fazer da eterna não nascença
poesia.

Um comentário:

floratomo disse...

a palavra que me veio à cabeça agora foi desesperança, como aquele filho não nascido...

mas a poesia torna tudo doce, mesmo os escarros e os putrefatos...

pelo menos não ser poeta é não ser ridídulo...

a minha menina, sempre tão sozinha, ainda brinca dessas coisas...

de líricas...

acredita no que eu já esqueci que desacredito...